"Por entre as flores observo o
último pôr-do-sol enquanto espero pelo que está do outro lado, essa é a hora de
voltar para casa.
Sinto como se deixasse uma legião
de cegos para trás e me perdesse em algo que um anjo definiu como paraíso.
Deito na relva e acompanho
pacientemente todo aquele espetáculo e aguardo pelo que me espera.
Minha visão turva projeta a imagem
dela sentada sob uma pedra que está quase se perdendo no horizonte, cantando
uma doce canção de ninar para mim... Como aquela voz soa intensa e suave...
Não sei se fecho os olhos para
sentir o momento ou se fixo o olhar na imagem dela, virou rotina não saber o
que fazer em sua presença.
Talvez em algumas horas eu não
precise mais me importar com o que falar, onde manter as mãos, como me portar
ou o que ser quando estou com ela... Talvez eu não esteja com ela de novo.
Ao longe ela me pergunta:
- Moça por que esses olhos tão
tristes se te reservei o céu mais lindo nesse fim de tarde?
Não sei o que responder, pois de
fato o momento é realmente lindo de mais para se estar triste, mas de tantas
coisas que já vivi a tristeza se tornou inerente a mim. Me limitei a sorrir.
Ela, porém insistiu:
- Este sorriso não me convence,
você sabe! Conheço o mais intimo dos seus gestos e sei que esse sorriso foi
apenas para esconder aquilo que você insiste em não me dizer. Vamos menina, por
que suas mãos ainda tremem se em algumas horas nada vai te separar do infinito?
- Não sei, é estranho pensar em
me livrar da vida que lutei para ter por anos.
- E por quantas vezes você foi
recompensada com momentos felizes?
- Poucas...
- Então se acalme. Levante, me dê
sua mão e respire fundo, pois se o mundo não soube ver quem você é, eu vou te
levar ao lugar no qual você nunca mais irá precisar chorar.
Levantei-me, segurei firme em sua
mão e caminhei em direção a escuridão que nascia aos poucos no horizonte. Por
muito tempo procurei ser bem recebida pelo portão principal, mas com ela qualquer
porta secreta se faz suficiente."
Aline Alves
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