"- Promete pra mim que não vai
morrer?
Ela não disse, ela não me pediu
pra prometer, mas essas palavras ecoam ao som da voz dela em minha mente.
Poucas semanas ainda me restam,
talvez dias e ela ainda não veio aqui. Esperei vê-la aparecendo correndo pelo
corredor e chorando me pedir quase que desesperadamente:
- Promete pra mim que não vai
morrer?
Mas ela não me pediu pra
prometer.
Esperei por outras vezes que ela
apenas me olhasse pelo vidro do quarto, fria e sem muita reação, que se
lembrasse de quem eu fui e segurasse uma lágrima insistente que tentou cair
pelo passado que ambas deixamos para trás, sem muita compaixão ela se prenderia
ao orgulho e viraria as costas e em um pensamento pediria a parte de mim que
vive dentro dela:
- Promete pra mim que não vai
morrer?
Mas creio que nada de mim ainda
vive nela...
Em algum momento nessa espera eu
parei de esperar. Notei que esperei tanta coisa durante tanto tempo, que perdeu
completamente o sentido esperar algo agora, mas em minha mente isso ainda ecoa
insistentemente. Não sei se sou eu que estou idealizando demais ou se de alguma
forma ainda existe uma ligação entre nós, não sei se estou sonhando ou se de
algum lugar ela implora:
- Promete pra mim que não vai
morrer?
Eu não poderia prometer nem a ela,
nem a mim. Cansada demais de fazer promessas que eu não posso cumprir.
Perco um tempo precioso
desenhando com o olhar uma rosa, um dragão e um herói de capa, pelas paredes
brancas do quarto. Começo a delirar, a imaginar, a sonhar, a tremer, a temer, a
me esconder, a suspirar, a gemer, a lembrar, a me reverter, a te inverter, a
querer, a repudiar, a enlouquecer... E subitamente começo a querer que ela me
peça pra responder:
- Promete pra mim que não vai
morrer?
Mas ela não me pediu pra
prometer.
Fecho os olhos, me canso das
promessas e espero uma nova remessa de devaneios...
Esperando desesperadamente pelo
momento que separa a chave na porta e o apagar das luzes.
E entre a escuridão vejo como
se em um clarão, em meio ao meu delírio incontido o último suspiro e repito pra
mim desejando que essas palavras viessem de alguém que não está aqui:
- Promete pra mim que não vai
morrer?
Que bom que eu não prometi, mas
ela não pediu pra eu prometer."
Aline Alves
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