"Entre as palavras censuradas e a certeza de que o inserto é o destino ao fim da jornada, notei que não preciso ser outra para ser eu mesma.
A dor é a cor do amor que ficou,
mas a falta que se sente não é dos momentos e sim daquilo que poderia ser
vivido.
Poderia... No passado... É
engraçado como momentos que nem ao menos chegaram a acontecer se tornaram
passado, ficaram pra trás e não vão voltar. Mas como voltariam se nem ao menos
foram?
Seguindo e aprendendo com a
inocência dos atos pouco pensados, os mesmos que me ensinaram uma gama de
coisas que eu só consigo explicar pro espelho.
Ai me pego pensando em quem eu
era quando comecei a formar meu caráter e em quem sou hoje. Não sei dizer se
cheguei onde queria chegar, mas sei que cheguei em algum lugar.
E eu juntei dois pedaços do que
sobrou, segui um pouco mais, talvez dois ou três passos largos pra longe de
onde me perdi. Senti que era o momento de assumir que embora algumas coisas estejam
no lugar, elas já estão tão enraizadas que não podem ser nada diferente disso.
Não quero ser uma formiga que
mesmo ajudando os seus e trabalhando arduamente, acaba fazendo exatamente a
mesma coisa todos os dias e sendo apenas mais uma em um ciclo interminável e
vicioso. Um ciclo de conforto.
Quero voar e só me entregar ao
conformismo quando tiver feito meu ninho no cume da montanha mais alta. Quero
me impulsionar sozinha, mas ter alguém para levar em minhas asas. Quero ser uma
coruja de rapina, viver só e atacar quem me ameaça. Mas também almejo ser um
canário, que vive para ajudar o bando. No entanto, continuo com o espirito da
águia que cada vez voa mais alto. Não importa o que eu seja, quero apenas
continuar me soltando ao vento e seguindo onde minhas asas me levarem.
Quero ser a luz, mas sem deixar
de ser a escuridão que descansas os olhos cansados.
Quero ser a aquarela que dá cor a
cada momento, mas sem deixar de ser a tarja preta no arco-íris.
Quero ser a música, mas sem
deixar de ser o silêncio que constrange quem não sabe se calar.
Queria mesmo era ver, mas prefiro
continuar a fingir que não existe.
E de tudo que eu quis ser, hoje
continuo sendo a mudança que precisava ser.
Hoje vi que o que achava ser um
furacão era apenas uma brisa leve de outono que veio, refrescou o calor da vida
e se foi tão subitamente quanto chegou. Talvez volte no inverno quando o frio
chegar, mas sempre trará consigo uma tempestade.
E cá entre nós, que pássaro pode voar na chuva?"
Aline Alves
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